sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Manifesto 74: Uma cara, um discurso, uma empatia

Manifesto 74: Uma cara, um discurso, uma empatia: João Gobern redigiu uma reportagem sobre um dia da campanha da CDU no Norte do país. O texto que abaixo se transcreve é um exemplo de um bom...

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O mistério do desaparecimento dos óculos


- Oh! Berto se não te importas chegas-me os meus óculos!
- Onde estão?
- Em cima da mesa junto do meu lugar…
- Não os vejo …
- Não pode ser, têm de estar aí, mas deixa lá, eu já os procuro quando formos sair…
Berto e Cristina sentaram-se a ver um filme sobre múmias na televisão, enquanto aguardavam a chegada de um dos filhos, para irem todos juntos dar um ligeiro passeio e tomar um café.  
Saíram sem ter encontrado os óculos e Cristina já ia apreensiva… onde teriam ido parar os óculos? Tinha a certeza que os tinha tirado e pousado em cima da mesa, mas às vezes tinha tantas “brancas” que começou a pôr em dúvida as certezas que tinha…
Após o regresso a casa, preocupada Cristina foi de novo procurar os óculos, até porque sem eles pouco podia fazer, sem ser ver televisão e isso de momento não lhe apetecia…
Mas a mesa já estava levantada e a toalha que servira ao almoço já tinha sido espanada…
Será que caíram para o chão? – Interrogou-se
Espreitou e nada viu. Ao verem-na ficar angustiada, o marido e os filhos resolveram ajudar na busca dos óculos e foi um reboliço…
Deslocaram móveis, arrumaram melhor a fruta e os medicamentos, juntaram os jornais e revistas espalhados, limparam, juntaram e remexeram o lixo, espreitaram até na máquina de lavar e na sanita, nada! Os óculos pareciam ter-se evaporado…
Cristina começou a ficar completamente angustiada, tentava recordar os momentos passados durante o almoço, mas só se lembrava de os ter pousado junto do copo, como é que poderiam ter desaparecido?
- Calma mãezinha, senta aí, enquanto procuramos, não chores, eles têm de aparecer, a casa não tem buracos – disse o filho mais novo
Só poderia ter sido a neta a pegar neles, telefonou-se, mas o pai da garota devia estar a conduzir, pois não atendia…, insistiu-se com mensagens, nada! Só restava aguardar que pudessem responder…
Cristina estava cada vez mais deprimida! E as lágrimas começaram a cair silenciosas pela cara abaixo… Como é que era possível? Pareciam ter-se desmaterializado! Não, isto não pode ser, eles têm de estar algures…
Procuraram-nos nos sítios mais improváveis, até no saco da ração do cão, mas nada! Espreitou-se para fora da varanda, se calhar teriam levantado a toalha e ao espanar caíram…, mas nada se via e chovia!
Interromperam-se as buscas, já não se imaginava onde se poderia procurar e os filhos precisavam de ir cada qual tratar da sua vida.
Nessa noite Cristina quase não conseguiu dormir! Estava profundamente triste! Tinha o marido doente e se começava a ficar senil, como poderia cuidar dele? Quando acordou Berto viu-a assim triste, tentou consolá-la:
- Vamos tomar o pequeno-almoço, quando menos esperares eles aparecem…
Os cães que tinham pregado a partida, não se calavam para ir à rua, Berto olhava através do vidro e só via chuva, que maçada ir à rua com este tempo, mas tinha de ser, só estava ele e Cristina em casa, teria de ser mesmo ele a levá-los.
- “Quando um santo está em baixo, até os cães lhe mijam nos pés”! – Desabafou, lembrando-se de um dito de sua mãe …
Cristina então gargalhou! – Oh! Homem! Agora com essa conseguiste fazer-me rir, obrigada! É bom rir outra vez!
Era dia da mãe e Cristina tinha ficado de ir almoçar com ela – levantou-se da mesa e foi-se refrescar e arranjar-se…, ao longo do dia, o seu ânimo foi melhorando, os óculos tinham sido caros, e o que não o era hoje em dia, não podia comprar outros, mas alguma coisa se havia de poder arranjar, não era morte d’homem…
O convívio com a família que esteve presente no almoço com a sua mãe, foi muito agradável apesar da longa espera, mas mesmo esta, permitiu mais tempo para partilharem as suas vidas, irmãos cunhados primos, sobrinhos, afilhados…
Quando regressaram a casa, Cristina estava exausta e foi-se estender ouvindo o relato do Porto e dormitou. Agitou-se quando o filho mais novo, lhe foi por o som do relato mais baixo, após ter voltado a casa sem a mãe se  ter apercebido!
Cristina levantou-se para comer alguma coisa e tomar os remédios da noite.
A sala estava com os estores para cima e deixava ver de fora para dentro, Cristina detestava sentir-se exposta e foi baixá-los! Mas o que é que estava emaranhado no cordão que não deixava baixar o estore? Olhou, no cordão que tinha na mão, estavam enrolados os óculos! Como é que foram lá parar?
 TCG